História Tudor: Como viviam as mulheres do período

Podemos ver, ainda nos dias de hoje, que muitas mulheres passam por dificuldades e se sentem excluídas por não fazerem parte do padrão de beleza atual, ou não ter roupa da moda, mas sempre foi desse jeito? Perguntamos para a Ana Carolina Gomes e Liliane Oliveira, formadas em design de moda, sobre como era viver no século XV e XVI sendo uma mulher.

Por que antigamente as mulheres eram retratadas (em pinturas) de forma triangular enquanto os homens eram retratados de forma quadrada? 

Liliane: A ideia de que homens sempre devem ser fortes e mostrar virilidade e as mulheres feminilidade e fertilidade, sempre foram evidenciadas pelas suas vestimentas, então o formato de suas roupas mostravam exatamente essa divisão, homens com ombros largos, em alguns casos nessa época, com reforços e evidência para sua genitália, mostrando masculinidade e virilidade, daquele que era o provedor.  Enquanto a mulher, tinha evidência de busto e quadris, que evidenciavam sua feminilidade e fertilidade, as casadas ainda carregavam a obrigação de vitrine do poder aquisitivo de seu marido, quanto mais joias, bordados e ostentação havia nas suas roupas, maior poder aquisitivo tinha sua família.
É importante lembrar que adornos, bordados e ostentação eram encontrados em trajes femininos e masculinos nessa época.

Ana Carolina: Mas as questões também vêm de antes do período Tudor, pois é sobre um padrão de modelagem que seguiu por muito tempo. O que o Tudorismo trouxe para a moda foi a influência da igreja como: Puritanismo, Opulência e tem influência Hispânica e Italiana.

Imagem por Tudor Brasil

Qual era o papel da anágua e da túnica na antiguidade? 

Liliane: Túnicas e anáguas eram utilizadas como roupas de baixo, normalmente brancas, quanto maior a quantidade de trocas (era o ideal ter pelo menos 1 troca de roupa para cada dia da semana, ter um número maior que esse era um sinal de ostentação e riqueza) e quanto mais brancas, maior o poder aquisitivo. Geralmente essas peças eram feitas em linhos finos.

Ana Carolina: A anágua que também pode ser chamada de Petticoat, começou a ser usada em 1585. Era normalmente usada como segunda pele para diminuir a transparência de outras peças mas também para definir o corpo da mulher, mudar o formato do corpo, ter cinturas mais finas e quadril maior e se pode ver o uso dela até o século 18. Claro que as mesmas tiveram modificações, de tecidos, formatos, usos e etc.

Já a túnica foi algo que veio da pré história, inicialmente usada para proteção contra frio e também para a caça onde o homem se opunha contra outros animais feitos de fibras vegetais e peles de animais.

Com o passar dos séculos a vestimenta tomou outros propósitos, também usado para diferenciar indivíduos normalmente do sexo masculino, visto bastante no Oriente médio com o propósito totalmente diferente, em tecidos leves, modelagem larga e em cores claras.

Imagem por Tudor Brasil

Por que as mulheres precisavam usar capelo antigamente?

Liliane: O capelo era um acessório que além de mostrar riqueza, servia como identificação para as mulheres. Mulheres casadas não podiam usar cabelos soltos, pois eram mal vistas, portanto usavam capelos que cobriam todo o cabelo ou capelos com faixas. As mulheres solteiras usavam capelos com cabelos soltos em sinal de virgindade e castidade.

Imagem do Google

Sabemos que a maquiagem foi usada muito tempo para indicar posição e status de uma pessoa, mas elas eram muito prejudiciais para a saúde? E a tintura para cabelos? 

Liliane: A maquiagem além de status era muito utilizada para esconder certas doenças de pele, machucados, etc. Principalmente quando eram colocadas as pretas, usadas para esconder feridas. Muitas dessas doenças eram ocasionadas pela falta de higiene. Realmente não tinham muitos estudos, ou técnicas, então não eram muito saudáveis.

Ana Carolina: Sim, a maquiagem era usada para mostrar sua posição e status diante a sociedade, mas também para esconder marcas, pequenas deficiências e de doenças como a varíola, herpes… Mas os padrões de beleza eram levados totalmente como questões de status, peles claras e cabelos dourados para se diferenciar as classes ricas e superiores, pois as mulheres pobres  que trabalhavam fora acabavam tendo tom de pele bronzeada o que não era ideal para os ricos.

Acredito que como na época tudo era feito baseado para mostrar status, eram sim prejudiciais pelo excesso, mas na maioria eram usados produtos naturais, lembrando que na época a higiene era algo feito com pouca frequência tanto nos corpos quanto nas roupas, então o perfume foi algo que foi usado com frequência para abafar odores mas também como um demonstrador de status.

Lutero: o homem que desafiou o catolicismo


Um dos grandes acontecimentos que marcaram e modificaram o mundo até os dias de hoje, foi a reforma protestante. Para entender como isso ocorreu, é preciso entender o contexto histórico europeu e todos os passos que levaram ao acontecimento.

Para isso, a historiadora formada pela PUC, Thays Macedo, explicou em detalhes todo o enredo desta história.

“Martinho Lutero deu inicio a uma reforma no cristianismo em meio ao século VXI. Monge alemão, católico e insatisfeito com os dogmas do catolicismo, escreve 95 teses contestando a postura da igreja católica.” diz Thays. “Acreditava que o fiel poderia negar a igreja e mesmo assim conseguir sua salvação, pois a fé seria mais importante que a instituição. Para ele, Deus salvaria o humano pelos seus atos e sua crença e não pela compra de indulgencias. Logo ele seria excomungado pelo Papa e declarado herege.”

Imagem do Google

“Mesmo criticado pela Igreja, a monarquia alemã começa apoiar suas argumentações, afinal, viam a oportunidade de se apoderar das terras e bens da igreja e parar de pagar impostos ao clero e travar guerras em nome do catolicismo” continua. “Logo, suas criticas começaram ficar famosas, e os protestos contra a igreja começam a ganhar força, o que impulsiona o monarca Henry VIII da Inglaterra a se posicionar a favor do catolicismo e condenar as pratica de Lutero.  A relação da monarquia com a igreja católica era estreita e as criticas feitas à igreja poderiam refletir na popularidade do monarca. Então, Henry discorre vários trabalhos antiprotestantes, começando pela critica de Lutero contra a venda de indulgencias, onde o mesmo dizia que era uma forma corrupta não só do catolicismo mas da pessoa em tentar diminuir seus pecados e garantir seu lugar aos céus. 

O monge, ao saber da publicação de livros de autoria do Rei da Inglaterra que atacavam suas diretrizes, trava uma batalha literária. Essa batalha perduraria por muitos anos, com respostas escritas através de pseudônimos por parte de Henry VIII e agressões verbais por parte de Lutero, até que o monge escreve uma carta direcionada ao rei, pedindo perdão por suas palavras, e até se propôs a se retratar publicamente, mas Henry não aceita sua proposta e isso o traria, mais tarde, mais  uma consequência para essa historia. “

Quadro em exposição na Torre de Londres.
Imagem de Paula Santinati

“Em 1533 o rei da Inglaterra decide se divorciar de sua então esposa Catarina de Aragão, alegando que a mesma não lhe dera herdeiros homens, para então casar com Anne Boleyn. A Igreja Católica condenou a postura do monarca em não honrar o casamento feito aos olhos de deus e o excomunga. Henrique então decreta o Ato de Supremacia, onde o rei passa a ser o chefe supremo da igreja da Inglaterra, podendo nomear novos ocupantes para os cargos eclesiásticos ( toda a estrutura eclesial foi mantida). Fora confiscado todos os bens da Igreja Católica, seus terras e mosteiros e vendidas aos mais nobres, fazendeiros e comerciantes ( o que mais tarde daria o ponta pé inicial para as atividades econômicas capitalistas)”.

“Assim o anglicanismo se consolida na Inglaterra, fazendo parte do movimento protestante onde lá atrás, Henry VIII se negara a apoiar.  Lutero se recusa a ajudar Henry em sua jornada de negação da igreja, já que o monarca recusou-se a dar-lhe o perdão real anos antes. Tanto Lutero, quanto Henry VIII tiveram um papel fundamental na reforma protestante, mesmo com suas diferenças, suas vidas motivaram mudanças na Igreja.” termina Macedo.

História Tudor: Como funcionava a medicina na época

Na época Tudor, os médicos seguiam os ensinamentos de Aristóteles, onde o corpo tinha quatro elementos importantes – sangue, fleuma, bile amarela e bile negra- e todas as doenças eram causadas pelo excesso de um desses elementos. Para curar, os médicos faziam o uso de drogas que provocavam vômitos (essas drogas podiam incluir partes de animais e minerais) e muitas vezes sanguessugas eram colocadas nos pacientes para tirar o excesso de sangue (em tentativas mais agressivas, facas e serras eram usadas).

Como já era de se esperar, muitos ferimentos e doenças acabavam infeccionando ou piorando e o paciente morria.

Para ter uma ideia melhor sobre estas atrocidades, a historiadora formada pela PUC, Thays Macedo, explica:

“Nessa época, métodos como a cauterização, o uso das mesmas ferramentas em vários pacientes ainda era muito comum” explica Thays. “Principalmente durante as guerras, onde médicos treinavam suas habilidades nós campos, queimando feridas para conter hemorragias e arrancando dentes a sangue frio para evitar infecções, o que muitas vezes não era eficaz. Então, começa-se observar que suturar os ferimentos ao invés de cauterizar, tinha mais eficácia contra infecções futuras e provocava menos dor.”

“Alguns cientistas também começam a observar que doenças que eram causadas por agentes externos, deveriam ser tratados com medicamentos mais específicos, como exemplo a sífilis ( ou doença francesa)” diz Macedo. “A doença começou a aparecer na Europa em meados do século XV, onde ainda se tem discussões sobre sua origem ser do continente americano ou não, causou uma grande epidemia, pois não se sabia como trata-la. A doença só começou a ser controlada quando o uso do mercúrio no tratamento começou a ser feito, isso muitos anos depois de sua chegada. Outras doenças como gripe, o tifo e o sarampo, foram espalhadas pelos europeus durante as grandes navegações, levando nativos a quase extinção pela falta de conhecimento e tratamento da doença.”

Porém, muitas descobertas foram feitas a partir dos erros que eram cometidos, é então que começa a influência de uma medicina mais parecida com o que conhecemos hoje.

Assista ao vídeo abaixo para entender o que a historiadora tem para contar.